A era digital tem agitado, reestruturado e transformado a vida da humanidade como nunca antes.
No campo jurídico, tem-se vivido o reflexo de todas as mudanças que vêm ocorrendo em nível global. Processo eletrônico, audiência virtual, depósitos judiciais eletrônicos, robô advogado (o Ross da IBM já tem 3 anos), o programa Vitor do STF que faz análise de processos, a LGPD, a teleadvocacia, escritórios virtuais, uso da IA para entender o comportamento e a tendência do juiz …
Estamos na era da cibernética, da inteligência artificial, Indústria 4.0, do data-driven, IoT, big data, machine learning, lawtech, blockchain, e em breve avançaremos para a Sociedade 5.0, conceito já lançado pelo Japão. Ufa!!!
Assim, penso ser fundamental ao profissional do Direito a multidisciplinariedade, flexibilizar a mentalidade tradicional e direcionar o olhar para novos conhecimentos e tecnologias. Ocorre que, paralelamente a isso, é indispensável a mudança nos hábitos e comportamentos humanos (individuais e em sociedade), a busca pela ética e moral, o desenvolvimento sustentável, o autoconhecimento.
Diante do ritmo frenético imposto pela era tecnológica e pelas mudanças globais, tem sido perceptível o aumento de pessoas que iniciam um movimento em direção à procura de suas prioridades não só como profissional, mas também como ser humano, à busca de uma compreensão maior da realidade em que vive e de estados de consciência mais avançados, de um respeito maior pelos seres vivos e de um relacionamento melhor com todos.
O físico e escritor Fritjof Capra não poderia expor melhor o imenso valor do desenvolvimento sustentável : “ … quanto mais entendemos a grande realidade na qual vivemos, mais humildes nos tornamos. Adquirimos um respeito excepcional por todos os seres vivos – sem qualquer exclusão. Passamos a ter um relacionamento melhor com todos. Desenvolvemos uma nova ética, não nos deixando levar por falsos valores. Conseguimos viver sem ansiedades, com mais flexibilidade e tolerância. Quanto melhor entendemos essa realidade, mais claramente enxergamos as formas de dar significado às nossas vidas, principalmente através do nosso dia-a-dia. Cada ato nosso, por mais simples que seja, passa a ser vivenciado com uma forte consciência de que ele está afetando a existência do todo em seus planos mais sutis. (Fritjof Capra, A Teia da Vida – Uma Nova Compreensão Científica dos Sistemas Vivos. São Paulo, Editora Cultrix, 2006)
A era digital não precisa estar desacompanhada de mudanças positivas, da ética, da moral e do princípio fundamental da dignidade da pessoa humana. É totalmente possível que, nos tempos em que vivemos e que estão por vir, as pessoas busquem não só a saúde física e mental, mas especialmente que as pessoas se tornem cada vez mais lúcidas, conhecedoras de si e do seu potencial, altamente capazes de se manterem em caminhos de aprimoramento contínuo, de contribuição com a sociedade, de excelentes relações interpessoais.
Enfim, a nova realidade está aí e ao invés de temer os aspectos negativos e desafios da era digital, no lugar de fechar os olhos para algo inevitável, o grande lance é estar preparado para tomá-la como aliada e potencializar os impactos positivos que ela traz.